Um estranho no ônibus. Sim, estou
ouvindo One Of Us, da Joan Osborne. Essa canção tem um ar nostálgico que toma
minha vida de uma forma avassaladora. Tenho um lance com essa canção porque
desde o seu lançamento, no início dos anos 90, o clipe passou diariamente na
TV. Lembro de ver uma loira de cabelos encaracolados, piercing no nariz, e
olhar penetrante dizendo Yeah, Yeah, Yeah... Nunca mais esqueci.
Um certo dia alguém me disse que
ela havia se suicidado e que sua canção fora proibida pela Igreja Católica por
fazer menções a Deus e ao Papa. Por um bom tempo acreditei em tudo isso. Não
havia internet. Não havia interesse. Não havia outra verdade. Repassei essa
história para muita gente. Cresci dizendo que ela havia se matado. Fazia
questão de mostrar esse clipe aos amigos, já adolescente, e afirmar: Sabia que
ela se matou?
A reação de todos à essa frase
era de consternação. “Puxa, tão jovem. Tão bonita”. Até que numa dessas sessões
nostálgicas de falsas afirmações, uma pessoa me disse: Sim, eu sabia que ela
havia morrido. Mas na verdade ela não se matou. Foi overdose”. Olha só, uma
nova informação. Overdose! Claro,
acrescentei isso ao meu discurso. Sabia que ela morreu de overdose?
Dentro da caixa dos gostos
estranhos que possuo se encontra esse, o de dar notícias fatídicas. Se o Papa
morrer, quero ser o primeiro a saber e a contar para os outros. Nunca entendi o
motivo. É como se eu sentisse prazer em ver o rosto de surpresa das pessoas através
de minha fonte verossímil dos fatos.
Tempos depois, numa dessas
pesquisas, descobri o álbum Relish, da Joan Osborne. Redescobri a canção e a
cantora, que está vivíssima. Nada de overdose. Nada de suicídio. Minha verdade
caiu por terra, graças a Deus. Joan continua linda, cantando, gravando,
compondo, e vivendo.
Atribuí esse gosto por noticiar desgraças
porque sou humano. Só por isso. As pessoas gostam de ver a surpresa dos outros
pela simples necessidade de aparecer. Quando todos estão à espera do resultado
de um sorteio, olhos, ouvidos e toda a atenção se voltam para aquele que está
com o papel na mão, com o número sorteado. Ele sabe o que o mundo inteiro ainda
não sabe.
É esse poder de saber que me
consome. Deve te consumir também. Somos iguais, não? Determinação e caráter.
Pecadilhos e caridades. Tudo igual. Na mesma hora e no mesmo lugar. Inclusive
sua vida volúvel é parecida com a vida volúvel do mundo. Acorda chorando. Diz
que me ama. Esquece de mim. Ri e foge. E reaparece. Todos assim. Todos iguais.
O resultado de tudo isso? Nenhum.
Dúvida não exprime resultado. Só vomita ócio. Que por sua vez gera desamor. O
desamor é um terreno fértil para um novo amor, até que aconteça uma notícia
fatídica. E essa eu também quero dar. E você sabe disso. Mesmo que diga não, eu
que sei sabes. Do not tell me you don’t know wich is in us, my dear.
Diego Schaun