quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O dia em que Joan Osborne ressuscitou, nasceu um cético piedoso e constante.




Um estranho no ônibus. Sim, estou ouvindo One Of Us, da Joan Osborne. Essa canção tem um ar nostálgico que toma minha vida de uma forma avassaladora. Tenho um lance com essa canção porque desde o seu lançamento, no início dos anos 90, o clipe passou diariamente na TV. Lembro de ver uma loira de cabelos encaracolados, piercing no nariz, e olhar penetrante dizendo Yeah, Yeah, Yeah... Nunca mais esqueci.

Um certo dia alguém me disse que ela havia se suicidado e que sua canção fora proibida pela Igreja Católica por fazer menções a Deus e ao Papa. Por um bom tempo acreditei em tudo isso. Não havia internet. Não havia interesse. Não havia outra verdade. Repassei essa história para muita gente. Cresci dizendo que ela havia se matado. Fazia questão de mostrar esse clipe aos amigos, já adolescente, e afirmar: Sabia que ela se matou?

A reação de todos à essa frase era de consternação. “Puxa, tão jovem. Tão bonita”. Até que numa dessas sessões nostálgicas de falsas afirmações, uma pessoa me disse: Sim, eu sabia que ela havia morrido. Mas na verdade ela não se matou. Foi overdose”. Olha só, uma nova informação.  Overdose! Claro, acrescentei isso ao meu discurso. Sabia que ela morreu de overdose?

Dentro da caixa dos gostos estranhos que possuo se encontra esse, o de dar notícias fatídicas. Se o Papa morrer, quero ser o primeiro a saber e a contar para os outros. Nunca entendi o motivo. É como se eu sentisse prazer em ver o rosto de surpresa das pessoas através de minha fonte verossímil dos fatos. 

Tempos depois, numa dessas pesquisas, descobri o álbum Relish, da Joan Osborne. Redescobri a canção e a cantora, que está vivíssima. Nada de overdose. Nada de suicídio. Minha verdade caiu por terra, graças a Deus. Joan continua linda, cantando, gravando, compondo, e vivendo.

Atribuí esse gosto por noticiar desgraças porque sou humano. Só por isso. As pessoas gostam de ver a surpresa dos outros pela simples necessidade de aparecer. Quando todos estão à espera do resultado de um sorteio, olhos, ouvidos e toda a atenção se voltam para aquele que está com o papel na mão, com o número sorteado. Ele sabe o que o mundo inteiro ainda não sabe.

É esse poder de saber que me consome. Deve te consumir também. Somos iguais, não? Determinação e caráter. Pecadilhos e caridades. Tudo igual. Na mesma hora e no mesmo lugar. Inclusive sua vida volúvel é parecida com a vida volúvel do mundo. Acorda chorando. Diz que me ama. Esquece de mim. Ri e foge. E reaparece. Todos assim. Todos iguais.

O resultado de tudo isso? Nenhum. Dúvida não exprime resultado. Só vomita ócio. Que por sua vez gera desamor. O desamor é um terreno fértil para um novo amor, até que aconteça uma notícia fatídica. E essa eu também quero dar. E você sabe disso. Mesmo que diga não, eu que sei sabes. Do not tell me you don’t know wich is in us, my dear. 


Diego Schaun